sexta-feira, março 19, 2010

Troia

Ao andar pela rua da Alfândega e adjacências, vejo o quão longe estamos dos horrores do Oriente Médio. Caminho por ruas do Rio em que descendentes daqueles pobres povos em guerra insolúvel convivem tranqüilamente, entre si e com aqueles coreanos que já foram sinistros, e que hoje sorriem e piscam os olhos para as morenas que por ali passeiam. É uma pena que em nosso SAARA não haja lugar para mais gentes do oriente. Seriam bem-vindas, como sempre o foram.

Homero mostrava os atos dos homens como conseqüência das disputas fúteis dos deuses do Olimpo. Se Júpiter desafiava Saturno (seu pai, prestem atenção), calamidades terríveis atingiam a humanidade, espalhando guerras e pestes, sofrimento, dor e fome em cada povo, em cada cidade, em cada lar.

O ambiente ideal para essas manifestações sempre foi o Mediterrâneo e seus arredores. Ali os conflitos explodiam. Egípcios, babilônios, gregos, persas, romanos e judeus se engalfinhavam em batalhas cruéis, revoltas, longos cercos, punições coletivas, remoção forçada de populações inteiras, massacres e destruição de cidades e templos.

Parece que Homero estava certo. Percebe-se em nossos tempos, que o Deus dos americanos – 89 por cento dos americanos acreditam que Jesus Cristo os ama de maneira pessoal e individual – encontra-se envolvido numa acirrada disputa com Iehwah (seu pai). Este, cansado da ineficiência de sua Aliança com os descendentes de Abraão e Moisés, após a inegável vitória do cristianismo politeísta de Constantino, abandonou-A ou pelo menos A ampliou, acolhendo Maomé e seu povo em suas hostes monoteístas. Assim, aquela região continua sofrendo as desgraças provocadas por vaidades divinas, e, desde os tempos de Tarik e das Cruzadas, por um combate brutal envolvendo nos dois lados, Deuses de uma mesma substância, ou talvez, de um lado, uma confusa Trindade e, do outro, um Deus intratável e ciumento, sempre furioso com a gente.

O que me preocupa é o fato de existirem esforços para trazer algumas dessas concepções deístas americanas para o Brasil, sem a avaliação das conseqüências de tais iniciativas. As pessoas que acreditam que a imitação do Sistema está nos movimentos do hip hop ou do funk, não estão vendo que a invasão imperial se dá por conceitos do sagrado, diferentes daqueles com que estamos acostumados a viver. Alexandre e César já compreendiam a necessidade do divino para um império dominar povos diversos.

Aqui, na verdade, nós nunca demos ouvidos a esses conflitos de divindades, e nossos cristãos, mais devotos de Maria - mãe de Jesus de Nazaré e de Tiago - sempre conviveram bem com algumas entidades divinas trazidas da África Interior, um tanto ferozes, mas, em geral, inofensivas.

Deus, para a maioria de nós sempre foi uma questão íntima, e, para alguns, algo que não faz a menor diferença.
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